A educação em saúde com base no diálogo e na evidência

O diálogo da equipe de atendimento com o paciente é fundamental para propiciar a informação mais qualificada, considerar as influências das relações sociais, recuperar a história de vida do interlocutor, reforçar o direito à autonomia do paciente e atender suas necessidades  individuais. O diálogo, assim traçado, permite que a prática clínica contemple não só as questões relativas à doença, como também adeque o tratamento às características do indivíduo.

Será necessário rever a nossa relação com o paciente? 

Sim, para que seja superado o hiato existente entre a prática clínica fundamentada em princípios biológicos, ou mecanicistas, e a forma como o paciente e o seu meio social entendem a doença. 

Como lidar com as incertezas? 

Em um cenário onde grande quantidade de novas informações são geradas todos os dias, assim como são incorporados novos avanços tecnológicos, o conhecimento gerado precisa ser avaliado quanto a qualidade; como também as linhas de cuidado estabelecidas pela evidência científica precisam ser construídas de forma integrada, em um processo de atenção empática para reduzir as incertezas do paciente sobre a evolução da doença. 

Como caracterizar a evolução da doença considerando as diferenças entre os pacientes?

A doença crônica, caracterizada por diferentes fatores biológicos, requer diferentes opções terapêuticas, que também depende da individualidade do paciente.

Diferentes pacientes desenvolvem e convivem com a mesma doença de forma diferente. A forma como evoluem também é peculiar a cada indivíduo, e pode ser melhor identificada por meio do diálogo estabelecido durante o atendimento, e assim definir a conduta mais apropriada às características, valores e preferências individuais.

Somente o paciente, ou seu responsável, podem colaborar nas decisões que mais se adaptam com as suas condições de vida. O atendimento integrado por diferentes profissionais de saúde, além de favorecer o relacionamento empático, facilita a identificação das questões individuais que envolvem a adaptação do paciente à nova condição de vida decorrente da doença. 

Os fundamentos do processo dialógico para tomada de decisão compartilhada com o paciente compreendem diferentes campos do conhecimento, experiência, comportamento e do ônus decorrente da enfermidade. Assim podem ser explicitados o conhecimento sobre a limitação imposta pela doença, complicações a longo prazo, ações de autocuidado, opções de tratamento, possibilidades prognósticas e, principalmente, a diferenciação entre as informações que procedem de estudos bem feitos e as de natureza mitológica. 

Experiências do paciente quanto a qualidade de vida, satisfação com o serviço de saúde, comunicação com o médico e demais profissionais de saúde, a retaguarda dos serviços ambulatorial ou de emergência, favorecem a aderência, entendida como aceitação e cumprimento das orientações recebidas.

O cotidiano da prática clínica revela situações muito diversas ou mesmo opostas, como a satisfação de ver pessoas curadas de seus males ou a frustração que cerca o fracasso do tratamento.

Quando se trata de vidas humanas, somos pouco tolerantes com as incertezas inerentes ao atendimento prestado ao paciente. Este espera de nós mais do que a competência de fazer o melhor que poderia ser feito.

Eles esperam, naturalmente, que tenhamos sucesso nas nossas decisões. Mas quem é essa pessoa que nos procura? Como ela nos vê? Como arrumar espaço para refletir a relação interpessoal? E todas as demais pessoas que estão esperando para serem atendidas?

Como lidar com essas questões na realidade diária? Corremos o risco de deixar o indivíduo de lado, para transformá-lo em um ser paciente, alguém que espera passivamente ou, que deveria apenas cumprir com as determinações recebidas.

As informações que procedem de estudos bem feitos são reconhecidas como evidências, que por sua vez fundamentam a prática clínica reconhecida como baseada em evidência. Apesar dessas informações serem obtidas em pesquisas realizadas com grupos de pacientes, acabam servindo de orientação para um determinado paciente, porque deve reconhecer com clareza suas as necessidades pessoais.

A tomada de decisão começa por avaliar de forma crítica a melhor evidência científica disponível, para em seguida compará-la com a experiência profissional adquirida previamente em situações semelhantes e, então, aplicar o conhecimento de acordo com a condição clínica, valores, preferências, preocupações e expectativas do paciente alvo do atendimento.

A evidência também decorre das informações obtidas durante a consulta com o paciente, do resultado dos exames e das informações obtidas nas pesquisas clínica e epidemiológica.

Os limites da tomada de decisão clínica são colocados pelas leis da sociedade civil, pelos recursos do financiamento assistencial, normas do sistema de saúde e pelos padrões sócio-comunitários.

O componente ético na tomada de decisão resulta da interação entre o profissional de saúde e o paciente, dentro das possibilidades e limites assistenciais. O conhecimento necessário para a tomada de decisão resulta da interação entre profissional, paciente e das evidências obtidas.

Artigo redigido por
Moacyr Nobre & Rachel Zanetta
Cognos – Inovação em Saúde